A 14ª Delegacia de Polícia (Gama), no Distrito Federal, abriu uma investigação após uma adolescente de 17 anos denunciar que sofreu violência física e sexual em um terreiro de umbanda onde morava.
A jovem relatou que voltou para casa com o cabelo cortado, hematomas na cabeça e queimaduras de terceiro grau nas mãos e na língua.
A acusada é Hayra Vitória Pereira Nunes, de 22 anos, responsável pela Tenda Espiritual Vovó Maria Conga Aruanda.
A vítima começou a frequentar o terreiro em setembro do ano passado, buscando apoio para sua transição de gênero, pois não se sentia aceita pela família.
Segundo o relato, Hayra prometeu acolhimento e um emprego, convencendo a adolescente a sair de casa e se afastar dos familiares.
No local, ela passou a realizar tarefas domésticas e percebeu que outra jovem era agredida a pauladas. Com o tempo, a própria adolescente se tornou alvo de agressões e exploração sexual.
Em depoimento, a jovem contou que foi transformada em escrava, obrigada a se prostituir e posar para fotos íntimas com o objetivo de atrair clientes, sendo que todo o dinheiro arrecadado era destinado à conta da acusada.
Ela relatou que suas roupas foram jogadas fora por serem consideradas inadequadas para sua "nova função" e foi forçada a usar vestimentas sensuais.
Em um dos episódios de violência, Hayra teria acusado a adolescente de roubar R$ 200. Para não contrariar a líder religiosa, a vítima assumiu a culpa e foi castigada com nove pauladas nos braços e nas mãos.
Em seguida, foi queimada com uma concha com brasa, tanto nas mãos quanto na cabeça. Segundo seu relato, a agressora também queimou sua língua, colocou pimenta nos ferimentos e jogou cachaça sobre seu corpo. Em desespero, a jovem temeu que fosse incendiada.
Ainda segundo o depoimento, Hayra quebrou uma garrafa e usou os cacos para perfurar suas mãos e cortar seus braços.
A vítima conseguiu fugir do terreiro em 26 de janeiro e procurou seu pai, que a levou para o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), onde passou por cirurgias reparadoras.
As investigações da Polícia Civil apontam para crimes de maus-tratos, exploração sexual, cárcere privado e agressão. Assim que soube das apurações, Hayra se mudou para Planaltina de Goiás (GO), mas acabou sendo presa na última quinta-feira (6).
O marido da acusada, Lucas Gomes, e o caseiro do terreiro, identificado como Alex, foram ouvidos pela polícia e negaram todas as acusações, apresentando versões contraditórias.
Alex, no entanto, admitiu que sabia das queimaduras na vítima. Outra jovem, que também era mantida no local, foi encontrada pela polícia e confirmou ter sido submetida a maus-tratos.
Assustada, ela apresentava hematomas pelo corpo e relatou que era tratada como escrava.